Já faz quase uma década desde que meu telefone tocava as 3 da manhã e eu, ainda no trabalho, atendia somente para ouvir minha mãe questionar os motivos da minha dedicação excessiva. Na área de tecnologia isso é mais comum do que deveria e para ser honesto, eu adorava; o prazer de se empenhar em um projeto, dar o seu melhor, é tentador e dificil de ser ignorado.
Aos 25, eu podia me dar ao luxo de concentrar nas 90 horas de trabalho semanais (e adorando) e descartar os demais aspectos da minha vida. Foi uma experiência importante, porém, diferente daquilo que prega a cultura do Sillicon Valley, dispensável.
A idéia de que o trabalho é aquele local onde você deve ir para se sacrificar, ou pior ainda, um lugar de troca onde parte da sua vida é oferecido somente para garantir um salário no final do mês, é estúpida. Um bom emprego, é aquele que podemos fazer o nosso melhor, com pessoas que gostamos e liberdade para trabalhar nos assuntos de interesse. Um bom empregador é aquele que compreende isso e oferece as condições para que as pessoas sejam felizes e tenham um estilo de vida equilibrado, onde a soma do trabalho, família, amigos, lazer e tempo livre é aquilo que as define.
Em busca dessas condições, a geração atual esta indo cada vez mais para o trabalho independente, fugindo das empresas na esperança de encontrar uma vida mais adequada, mas geralmente, os frelancers acabam encontrando uma rotina com mais horas de trabalho e se tornam reféns da responsabilidade de ter múltiplos "chefes". Como diz o artigo: "o estilo de vida do freelancer não é para todo mundo" e para que as empresas possam competir por esses profissionais, é necessário que elas implementem uma cultura que valorize o ser humano, suas diferenças: cada pessoa tem seus limites e características, suas ambições e desejos, seus problemas e dificuldades; e que promova o espírito de uma vida equilibrada e estável.
Afinal, se posso trabalhar com as pessoas que gosto, em projetos interessantes, com liberdade para ter o estilo de vida que desejo, que sentido faria trocar de emprego a cada ano? Pelo contrário, torço para este seja o último, para que possa aproveitar ao máximo o tempo livre que tenho graças a um trabalho que sabe respeitar o simples fato de que a vida deve ser vivida no presente e não sacrificada pela falsa ilusão de uma aposentadoria regada a caipirinhas em uma praia qualquer.
Hoje eu escrevo software, aquilo que gosto e já fazia as 3 da manhã a 10 anos atrás e a satisfação que tenho no meu trabalho é grande o bastante para que eu deseje continuar escrevendo software pelo tempo que minha saúde permitir, só que desta vez, sem sacrificar meu estilo de vida.
Nota: Esse post foi originalmente publicado por mim no site da NexTVision, empresa da qual cofundei em 2004. Após sair da sociedade no final de 2016 o site foi reformulado e não conta mais com as colaborações que fiz, por isso as reproduzo aqui.
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